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Súplicas Tocadas pela Morte

  • Foto do escritor: Jornal O Cola
    Jornal O Cola
  • 13 de mai. de 2023
  • 3 min de leitura
De Carolina Franco
Editado por Matilde Freitas
Traduzido por Carolina Franco

A guerra não é gentil com os fracos.


Na verdade, retifiquemos isso.


A guerra não é gentil com ninguém. Nem com quem as combatem, nem com as assistem nos bastidores, nem mesmo com aqueles que a decidiram começar em primeiro lugar. A guerra é impiedosa.


Ela sabia de tudo isto. No entanto, quando chegou a hora, ela ainda se inscreveu para servir na linha de frente como Médica do Exército. «Eu posso fazer uma mudança, posso ajudar as pessoas,» pensou. Proteger a sua nação, o seu país - era esse o seu objetivo.


Portanto, a questão que ela se está a colocar neste exato momento é... Quando é que as coisas correram mal?


Ela está deitada, sozinha num campo de batalha lotado que parece assustadoramente imóvel.


O silêncio não dura muito porque rapidamente o zumbido nos seus ouvidos dá lugar ao pior ruído de todos - a morte.


O som da morte pode vir de muitas maneiras: num último suspiro, em frases sussurradas ao ouvido do seu filho favorito, numa uma letra de suicídio onde as palavras escorregam agonizantemente pelos lábios da alma infeliz que a encontrou, ou na leitura do seu testamento.


Hoje, vem talvez numa das piores formas possíveis: o desespero.


Tudo o que ela conseguia ouvir eram gritos. Gritos de dor, gritos de «retiro!», gritos de «salvem-me»; clamores por um Deus que parecia ter desistido deles há muito tempo, súplicas de almas implorantes que sabem que em breve irão partir.


No campo de batalha, a morte é um conhecido próximo, sempre perto. Alguns imploram por ela, alguns instigam-na para longe. Ela leva-os a todos, sem se importar com os seus desejos. Ela leva as suas almas e deixa os seus cadáveres como uma moeda de troca, a sangrar e a arder e mortos.


A morte é o némesis de um médico, na maioria das vezes. Estão destinados a lutar uma guerra eterna, tão brutal quanto o Armagedom, mas pode-se argumentar que não existe “bem” ou “mal”. As palavras que ela havia bramido anteriormente com confiança inabalável de repente pareciam estúpidas.


«Lutem!» Gritou momentos antes de a bomba atingir. «Lutem pelas vossas mães à espera em casa.»


As suas palavras pareciam “um raio de sol num céu cinzento”, um soldado (um pai, um marido - tanto mais do que apenas um soldado) tinha-lhe dito na escuridão da noite enquanto ela tratava da sua perna arruinada. Outro soldado (um filho, um namorado) afirmou que ela lhe dava esperança. Ela não conseguiu arranjar coragem para lhe dizer que ele provavelmente não regressaria a casa.


«Hoje vivemos», gritou o seu comandante na noite anterior. «Se morrermos amanhã, partiremos com honra!»


Talvez ele tenha pressentido - não é assim tão difícil adivinhar o que acontece numa guerra. Talvez ele soubesse que eles seriam transformados em porcos num matadouro, direitos humanos que se lixem. Talvez a culpa tenha sido dela por se agarrar a esperanças tolas de um futuro melhor.


No entanto, ela não teve tempo para sentir pena de si mesma, não quando súplicas tocadas pela morte soavam em todo o seu redor numa sinfonia bruta de choro e dor. Ela levanta-se e pega na sua arma, caída debaixo de um cadáver irreconhecível - não ousando olhar mais do que um segundo, receosa de encontrar um amigo. Ela enterra o luto, o medo e a culpa.


A guerra é impiedosa, mas ela também o é.



 
 
 

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